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Em tempos modernos, quem é o porteiro?

Por Cidades e Serviços
Última atualização: 18/11/2020

Crop shot of male hand opening metal handle of glass door
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Quando você pensa na figura do porteiro, que imagem vem à sua cabeça? Será que é aquele senhorzinho de meia idade sentado atendendo o interfone, separando as correspondências e guardando as chaves?

Não que esse “clássico” porteiro não exista, mas hoje em dia, assim como o síndico, o perfil dos porteiros nos condomínios também mudou, se enquadrando nas atuais necessidades da vida moderna e, obviamente, se atualizando.

Além de variadas idades e perfis, há novas “modalidades” de porteiro, como o porteiro eletrônico, que, em alguns condomínios, substituiu a tradicional função por atendentes virtuais que nem no prédio estão.

E não é só a figura “física” da função que mudou. As necessidades de aprendizado e requisitos também. “O perfil do porteiro ‘tiozinho’ mudou completamente. Hoje não tem como ser porteiro sem entender de tecnologia.

E esse perfil mudou muito para homens mais jovens. Hoje temos tipos novos e modernos de porteiros que buscam informações e capacitação para subir de cargo. São profissionais com ambição que querem também ter seu trabalho reconhecido”, afirma Viviane Morcelli, diretora de negócios da divisão HR Timbre.

Em 2017, o grupo Bradesco Seguros divulgou uma pesquisa que buscou identificar o “perfil do porteiro”. De acordo com o estudo, que ouviu 500 pessoas incluindo síndicos dos estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais e Espírito Santo, os moradores associam a função do porteiro com a “segurança do condomínio e abrir o portão de entrada” (70%), seguido de “entregar encomendas” (22%), “carregar comprar” (20%), e “realizar pequenos reparos de infraestrutura e distribuir correspondências” (18%).

Um dado interessante é que, de cada 10 síndicos entrevistados pelo estudo, quatro disseram que seus porteiros fizeram algum curso de aperfeiçoamento nos últimos anos. Ou seja… Eles estão se atualizando.

“Passamos por um cenário de mudanças de entendimento. Se antes tínhamos porteiros que entendiam seu trabalho como abrir portas, entregar cartas aos moradores e regar plantas, hoje temos um profissional que busca o trabalho em equipe, a responsabilidade e o entendimento em especial de que a portaria é um serviço, uma prestação de trabalho, em outras palavras, vejo um movimento de ‘tecnização’ da profissão”, explica a psicóloga e especialista em cursos de Administração de Condomínios e em workshops de especialização para porteiros do Secovi Rio, Elsa Devay Alvarez.

Portanto, a tecnologia se torna cada vez mais importante na profissão do porteiro. E isso não é nenhuma surpresa, afinal, a tendência é que os processos sejam cada vez mais tecnológicos e/ou automatizados em qualquer área de atuação. “A função de porteiro pede cada vez mais responsabilidades.

Fora que é imprescindível nos dias de hoje ter um bom relacionamento interpessoal com todos e ser um profissional multifuncional, que saiba suas funções e as correlatas também, além de ter muita pro-atividade se antecipando aos problemas e sempre sendo atualizado em relação ao condomínio desde a legislação interna até mudanças nas regras dos prédios em reuniões.

Isso é o novo porteiro, ligado em tudo”, aponta Viviane Morcelli.

Diferenciais na hora da contratação

Além de habilidades em tecnologia e bom relacionamento interpessoal, os especialistas são categóricos ao afirmar que a função do porteiro está diretamente relacionada à segurança dos condomínios.

“No curso que ministro no Secovi Rio, eu falo da importância da construção de ações de segurança que são da competência do porteiro. É a chamada segurança de prevenção.

Fazemos no curso dinâmicas de grupo que possibilitam o exercício dessas ações preventivas, a sua viabilidade de fato nos condomínios e o quanto isso impacta na condução de um bom serviço de portaria, no qual a prevenção é carro-chefe do trabalho do porteiro”, afirma a psicóloga Elsa Devay Alvarez.

A profissional explica que muitos dos alunos já chegam com essa demanda. “Na vivência do curso, isso é visto como algo possível de se construir contemplando o envolvimento de todos os funcionários, legitimando dessa forma a importância do trabalho em equipe, a comunicação e as reuniões mensais entre eles”, completa.

Para ela, os pontos imprescindíveis dos profissionais são: ser proativo, ter inteligência emocional, valorizar o seu trabalho e, principalmente, ser conciliador. Um porteiro que tenha tudo isso, é um verdadeiro às!

E se vivêssemos sem porteiro?

Apesar da importância do profissional da portaria, que funciona como uma espécie de guardião do condomínio, existe uma corrente de novos serviços e opções bastante modernas que substituem o tradicional empregado.

É o caso da portaria remota, um novo serviço com grande potencial de crescimento no mercado e que tem sido implementado em diversos condomínios, especialmente na cidade de São Paulo.

Segundo um estudo da Associação Brasileira das Empresas de Sistemas Eletrônicos de Segurança (Abese), divulgado no início do ano, a expectativa para 2020 era de uma alta de 30% nesse tipo de serviço em todo o país.

O mesmo estudo afirma ainda que empresas de segurança de todo o Brasil que trabalham com a solução de instalação e gerenciamento de portarias remotas já têm nesse tipo de negócio até 20% do volume de vendas. E 11% das empresas já trabalham exclusivamente na oferta de portaria remota.

Apesar do otimismo, 76,5% das empresas revelaram que sofrem ou já sofreram algum tipo de resistência por parte dos condomínios em relação à nova tecnologia.

Entre as empresas que promovem a solução, cerca de 10% trabalham exclusivamente com a instalação e o gerenciamento de portarias remotas: o investimento inicial é nos equipamentos, e depois, apenas uma mensalidade de gestão.

Esse modelo foi implementado no Condomínio Bandeirante Marco de Azevedo III, localizado no bairro carioca do Engenho de Dentro.

Desde agosto de 2019, o prédio – um bloco de 64 unidades dentro de um condomínio de cinco blocos, com 320 unidades no total – fez a troca de funcionários pela portaria remota.

O síndico Alan Marques de Souza conta que assumiu a gestão do condomínio em janeiro do mesmo ano e a decisão pela troca dos porteiros já havia sido votada positivamente em assembleia, era só implementar. Mas não foi tão fácil assim…

“A ideia partiu de um dos subsíndicos do condomínio como uma sugestão de melhoria, tanta na segurança, quanto em relação aos custos. Antes, tínhamos algo que era muito falho. Algumas pessoas que já eram conhecidas por passarem frequentemente na portaria acessavam o prédio sem identificação. E foram relatados casos de pessoas que batiam nas portas das unidades, incomodando os condôminos”, explica o síndico.

No momento em que foi decidida a troca, Alan conta que houve adesão dos cinco blocos do condomínio. “Quando começou a implementação, dois blocos não quiseram continuar e desistiram.

Somente três deram continuidade. Então, de agosto para cá, tivemos esse período crítico de mudança, implementação de novos processos, adaptação e também de desligamento dos funcionários, que foi a parte mais difícil, pois havia um medo geral entre os moradores”, afirma.

Antes, o condomínio tinha seis funcionários: dois porteiros diurnos, dois noturnos e dois faxineiros. Agora, os porteiros ficam por conta da empresa de portaria remota. Quando toca o interfone, por exemplo, quem atende são os atendentes da mesa de operação, que não estão alocados no condomínio e acabam fazendo o papel do porteiro.

Novas câmeras de segurança e escutas nos interfones, que registram tudo num histórico remoto até 30 dias, foram adicionadas. Os acessos de garagem, em breve, também serão eletrônicos.  “Além disso, implementamos um zelador e terceirizamos a pessoa da limpeza.

Todos esses profissionais, agora, não têm vínculo de trabalho direto com o condomínio, e alguns ficam em outro lugar”, relata.

Assim, o custo com a folha de pagamento desceu e a sensação de segurança aumentou por conta das câmeras. O que os moradores acharam? “É uma mudança de cultura. E toda mudança assim requer um tempo para que ela comece a mostrar seus benefícios para ter uma boa aceitação.

Inicialmente não foi fácil. Mas hoje os moradores já começam a ver de forma mais positiva. O investimento em equipamento não é alto, nem as mensalidades, o que proporcionou um respiro no caixa do condomínio”, completa.

Mas será que essa é realmente uma tendência? Afinal, o porteiro ainda terá seu papel de destaque na portaria em tempos modernos?

“Acredito que mesmo com as portarias digitais, a função do porteiro nunca vai ser excluída. Só que agora esse profissional será cada vez mais multifacetado e sempre estará se renovando. Estudar é um ponto crucial para o aprimoramento e para o futuro. As perspectivas estão concentradas nas grandes metrópoles. A contratação desses profissionais deve crescer cada vez mais”, opina Viviane Morcelli.

A reflexão é compartilhada pela especialista Elsa Devay, com ênfase na capacitação. Ela ainda toca num ponto muito importante: cada condomínio tem seu perfil e sua própria solução em relação à portaria.

“Cada vez mais creio que será necessário a criação de cursos específicos voltados para a portaria não só de especificidades técnicas, mas também de gestão de pessoas, fóruns de debates entre síndicos, porteiros e moradores. Acredito num momento de criação de propostas no qual todos esses atores devam estar envolvidos na busca de soluções para os problemas dos condomínios”, conclui.

Por: Mario Camelo

 

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