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Como a inflação afeta as contas do condomínio

Por Cidades e Serviços
Última atualização: 17/05/2022

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2021 amargou tristes recordes, entre eles o da inflação. O Brasil fechou o ano passado com uma alta acumulada de preços na ordem de 10,6%, atingindo o maior patamar desde 2015. O resultado, divulgado pelo IBGE, superou as metas previstas pelo Banco Central para o período. A projeção do mercado para 2022 prevê desaceleração: a estimativa é de que a inflação estacione em 6,5%. Ainda assim, consumidores de todo o país sentem no bolso os impactos do aumento nos preços.

Na prática, a inflação significa redução do poder de compra. Com produtos e serviços mais caros, no fim das contas, o dinheiro vale menos. 

No condomínio, o aumento constante de preços tem levado síndicos e gestores a fazerem malabarismos para equilibrar os gastos com a arrecadação das cotas sem comprometer a previsão orçamentária da unidade. “Por aqui, o jeito foi investir em um bom sistema de cotação de preços e de parcelamento das compras. Isso nos ajudou bastante a minimizar o efeito inflacionário”, compartilha Luiz Henrique Ribeiro, síndico do Duo Prime, com 80 unidades, em Botafogo (RJ). 

Muitos gestores, preocupados com os impactos da crise econômica provocada pela pandemia  da Covid-19, evitaram reajustar as taxas condominiais nos últimos dois anos. Pesquisas apontam que cerca de 70% dos brasileiros tiveram emprego ou renda familiar prejudicados em decorrência do Novo Coronavírus.

Mas a falta de correção do valor ao longo dos anos, somada à subida persistente nos preços de produtos e serviços tornou ainda mais difícil a tarefa de equilibrar as contas condominiais. Para muitos, ficou impossível represar o reajuste por mais tempo. 

Apenas na região metropolitana de São Paulo, o Índice dos Custos Condominiais (Icon) registrou crescimento de 10,40% de abril de 2021 a março de 2022. Embora não deva ser utilizado como um índice de reajuste da taxa condominial, o Icon nesse patamar sinaliza a síndicos e administradoras a necessidade de avaliar com atenção o aumento das despesas nos últimos anos e atualizar o valor das taxas condominiais para cobri-las. 

“Cada condomínio possui suas particularidades e forma de administrar o fluxo de caixa. Em função da pandemia, realizamos uma Assembleia Ordinária no meio do ano de 2021 e não deliberamos nenhum reajuste. Já em 2022, recentemente, retomamos o equilíbrio com a correção de 9%”, conta o síndico Luiz Henrique. Em algumas localidades, os reajustes ficam entre 15% e 20%. 

Além da diminuição no poder de compra e do potencial aumento nas taxas condominiais, há uma série de outros impactos da inflação alta no cotidiano do condomínio. Veja abaixo os principais.

 

Aumento nos insumos

Um dos principais índices de inflação do Brasil é o IPCA, e ele mede as variações mensais dos preços de uma cesta vasta de serviços e insumos. Entre os itens mais determinantes para a alta do IPCA nos últimos anos está a energia elétrica. No condomínio, estima-se que ela represente de 5% a 10% do custo total de manutenção. 

Para síndicos e gestores, foi impossível não sentir o impacto dos sucessivos aumentos no fornecimento de energia. Em meados de 2021,  a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) subiu mais de 50% no valor da bandeira vermelha patamar 2, elevando a cobrança adicional de R$ 6,24 para R$ 9,49 a cada 100 kWh (quilowatt-hora) consumidos.

A conta de água também ficou mais cara. No Rio de Janeiro, desde novembro do ano passado, a CEDAE reajustou em 9,8% a tarifa. A correção coincidiu com o aumento no consumo do líquido pelas famílias:  segundo levantamento divulgado pela emissora CNN Brasil, somente no primeiro trimestre de 2021, os condomínios brasileiros intensificaram o uso de água em 10%.

Além disso, as pessoas tiveram de pagar mais caro por combustível e produtos de limpeza cuja maior demanda se elevou durante a pandemia por conta da situação de emergência sanitária.

 

Contratos mais caros

Estimativas indicam que os contratos com fornecedores terceirizados sentiram bem o impacto da inflação. Serviços ligados à indústria e equipamentos, como os de manutenção ou instalação de elevadores, geradores, câmeras de vigilância ou bombas d’água, registraram reajustes na faixa dos 15%. Já os contratos com empresas fornecedoras de mão-de-obra, como vigilantes, seguranças ou equipe de limpeza, subiram em torno de 5%.

A folha de pagamento de empregados fixos, que pode chegar a representar 70% da despesa total do condomínio, também aumentou. O Sindicato dos Empregados em Edifícios no Município do Rio de Janeiro (SEEMRJ), por exemplo, determinou, em 2021, dissídio de 6% sobre o salário de porteiros, vigias, zeladores, serventes e demais representados pela categoria.  

 

Maior risco de inadimplência

Um dos maiores impactos indiretos da inflação no condomínio é o risco de maior inadimplência. Com o aumento do custo de vida, as chances de endividamento das famílias são maiores e, não raro, na hora de priorizar a quitação de débitos, os condôminos acabam preferindo pagar contas com penalidades e juros maiores, como faturas de cartão de crédito, por exemplo, em detrimento da cota condominial.

Segundo estudo da APSA, a inadimplência no município do Rio de Janeiro atingiu recorde histórico, de 14%, em 2020. Além de prejudicar o fluxo de caixa do condomínio, a falta de pagamento das cotas freia a realização de manutenções e obras corretivas, que passam a ser relegadas a segundo plano. Em quadros deficitários, o síndico acaba tendo de recorrer também ao fundo de reserva condominial para fechar o mês.

Em casos mais extremos de desequilíbrio de caixa, a inadimplência pode comprometer o pagamento dos funcionários, gerando passivos trabalhistas, além do adiamento do pagamento de despesas ordinárias para o mês seguinte, hipotecando a sustentabilidade financeira do condomínio em longo prazo.

“É preciso lidar de forma proativa em relação ao atraso. Procuro sensibilizar o morador da importância de sua adimplência para a necessidade de manutenção dos pagamentos condominiais.  Também procuro não flexibilizar a cobrança de encargos moratórios, o que normalmente esvazia novas tentativas de pleitos dessa natureza. Por último, esgotadas essas possibilidades, prontamente encaminho a cobrança dos valores aos nossos advogados e creio que esse suporte e atuação independente são fundamentais para a manutenção da adimplência”, completa o síndico de Botafogo.

 

Por: Aline Durães

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