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Residências Verdes

Por Cidades e Serviços
Última atualização: 11/09/2013
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Três trilhões de dólares. Esse é o montante que a construção civil movimenta por ano no mundo. Por ser tão intensa, a atividade é a que mais consome recursos naturais, sendo responsável pelo gasto de 40% de toda a energia gerada, pela emissão de um terço dos níveis mundiais de gás carbônico e pela extração de 66% de toda a madeira existente.

Estudiosa do assunto, Alexandra Lichtenberg, arquiteta com dois mestrados no currículo, um em Arquitetura com ênfase em Eficiência Energética e Conforto Ambiental e outro em Liderança Estratégica para a Sustentabilidade, resolveu arregaçar as mangas e provar que é possível reduzir os impactos ambientais das construções urbanas.

A arquiteta ganhou notoriedade depois de transformar uma casa de 1930 e um apartamento da década de 1950, ambos localizados no bairro da Urca, no Rio de Janeiro, em residências autossustentáveis. Com uma série de medidas simples, os imóveis funcionam em harmonia com o meio ambiente e são, hoje, exemplos de arquitetura verde, uma tendência cada vez mais comum em um mundo especialmente preocupado com a sustentabilidade ambiental. “Quando estava terminando a faculdade, em 1979, aconteceu a segunda crise do petróleo. Ela me colocou frente a frente com a questão da escassez de recursos. Desde, então, sigo procurando soluções permanentes e sustentáveis, isto é, como obter a redução do uso dos recursos naturais”, enfatiza Alexandra.

Só pode ser chamada de autossustentável a residência que foi concebida para explorar o clima do local, maximizando o conforto do usuário — tanto ambiental quanto funcional — e minimizando o uso de recursos. Alexandra explica que, embora seja mais fácil construir um projeto autossustentável do zero, nada impede que apartamentos e casas já construídos se adaptem ao modelo. “É claro que é muito mais simples e econômico fazer a construção sustentável do inicio. Contudo, a maioria dos imóveis pode ser adaptada; tudo vai depender de uma análise prévia do projeto de arquitetura e das instalações (elétrica, hidro-sanitária, estrutural). Essa análise é crucial para determinar a viabilidade, inclusive econômica, das intervenções necessárias. Se não houver um retorno sobre o investimento atraente, a adaptação não deve ser feita”, esclarece.

Mudanças de dentro para fora
Uso racional da luz, economia de água, reaproveitamento de itens que tinham o lixo como destino certo. Essas foram algumas iniciativas adotadas pela arquiteta Alexandra Lichtenberg para tornar a casa de 288 m2, chamada de EcoHouse, e o apartamento onde mora, intitulado EcoHouse II, em ambientes autossustentáveis.

O primeiro passo para a realização dos projetos foi o estudo minucioso do posicionamento do sol e da direção do vento no bairro da Urca, onde se localizam os imóveis. Alexandra conta que essa avaliação foi essencial, já que permitiu conhecer as entradas de calor, possibilitou abrir as janelas nos locais corretos, além de ter evitado o ganho de carga térmica indesejado e protegido as unidades de ruídos indesejáveis.

Por serem edificações antigas e sem reformas recentes, a arquiteta precisou contratar engenheiros para desenvolver projetos elétrico e hidro-sanitário completos, adequando as instalações às normas brasileiras atuais. “Na EcoHouse, modifiquei bastante as fachadas e aberturas; usei tijolo de vidro para iluminação. Com o aprendizado adquirido nela, de que os vidros especiais não produzem os resultados projetados, mantive, no apartamento, as esquadrias das salas e adicionei externamente um sistema de brise-soleil para barrar a incidência direta do sol na fachada. Além disso, no apartamento, eliminei um lavabo existente que dava para o prisma de ventilação do prédio, para aproveitar o vento sudoeste. Ao eliminar também as paredes da cozinha e abrir este ambiente para a sala, consegui que a ventilação vinda do prisma se espalhasse pelas salas e pela cozinha”, explica.

Alexandra eliminou os quartos de empregada das unidades por julgar que eles não têm mais utilidade nos dias de hoje. Optou por cozinhas americanas o que, segundo ela, é mais funcional e aproxima os moradores da casa. Manteve, no entanto, todos os armários, assim como o piso existente em taco de madeira, e recuperou as janelas dos quartos, até então aparentemente destruídas por cupins.

A questão da água mereceu especial atenção da mestra, que instalou vasos sanitários alimentados por distribuidores diferentes, chuveiros com aeradores e torneiras de acionamento fotoelétrico. Alexandra recorreu também a placas solares para aquecer a água do chuveiro e a um monocomando que aquece a água antes de ela entrar na máquina de lavar.

E não para por aí. A arquiteta da Urca pretende levar as inovações sustentáveis do seu apartamento para o condomínio como um todo. “Meu objetivo é adequar as instalações prediais comuns às normas brasileiras e instalar o aquecimento solar de água. Essas experiências têm me mostrado que viver em um ambiente sustentável é muito mais confortável. Usamos o ar condicionado apenas quando necessário, porém o uso da ventilação natural e também da luz natural maximiza a sensação de bem estar”, observa.

Faça você mesmo
Alexandra Lichtenberg não revela quanto gastou para promover as mudanças nas unidades EcoHouse, mas estudos garantem que a economia de água e luz gerada compensam o investimento nas adaptações. Segundo o Green Building Council Brasil, ONG que visa fomentar a indústria de construção sustentável, o retorno sobre o investimento inicial ocorre em até três anos, com redução de gastos da ordem de 50% nas contas mensais.

Algumas medidas são mais simples do que outras e podem ser implantadas a baixo custo por qualquer síndico ou condômino mais sensível às causas ambientais. Para reduzir o calor nas unidades sem deixar de aproveitar a luz do sol, por exemplo, Alexandra recomenda a utilização de vegetação nos espaços externos das janelas.

A iluminação por lâmpadas de led é outra dica da arquiteta. Embora mais caras, essas lâmpadas têm maior durabilidade e economizam energia. “Síndicos e condôminos devem estudar o projeto da unidade. Se possível, façam isso quando ela ainda estiver na planta. Eu mesma, por exemplo, já aconselhei clientes a não comprarem imóveis muito escuros, imprensados por outros apartamentos que impediam a ventilação e a iluminação da maneira correta e impossibilitavam intervenções eficientes. O importante é entender que, em casos de reformas mais profundas, será necessária a contratação de um arquiteto especializado. Muitas vezes, as pessoas que fazem as mudanças por conta própria não atingem os objetivos desejados e, então, dizem que a sustentabilidade não funciona”, narra.

A tendência é que, no futuro, a opção pelo ecologicamente sustentável se converta em um imóvel mais valorizado e com preço de mercado elevado. Nos Estados Unidos, uma construção com certificado de sustentabilidade chega a valer 20% a mais do que as edificações comuns. No Brasil, já é grande a procura por selos de qualidade: 51 prédios corporativos já obtiveram o LEED (sigla em inglês para Liderança em Energia e Design Ambiental) e 525 aguardam a certificação. “Precisamos de políticas públicas que apoiem a busca por sustentabilidade. Como pode haver IPI zero para automóveis e não para equipamentos de energia solar? Porque não temos uma política similar à europeia para geração de energia solar fotovoltaica? Poderíamos gerar milhares de empregos ao incentivar essas indústrias e fazer o mercado de economia verde crescer”, conclui a arquiteta Alexandra Lichtenberg.

 

Confira as principais mudanças efetuadas pela arquiteta Alexandra para transformar residências comuns em locais ecologicamente viáveis.

– remoção das paredes da cozinha, otimizando a iluminação natural da sala de estar e da cozinha;

– edificação de uma área aberta, onde originalmente ficava o lavabo, que aproveita a entrada de vento da cobertura;

– instalação de um grande quadro de luz com 25 disjuntores: um para cada aparelho e ambiente, o que aumenta a segurança e a eficiência energética;

– instalação de placas solares para aquecer a água do chuveiro e de cisternas para captação da água da chuva;

– implantação de torneiras inteligentes e econômicas nos banheiros e na cozinha;

– instalação de monocomando que aquece a água antes de ela entrar na máquina de lavar;

– opção por revestimento feito com a mistura de argila e restos de vidros de lâmpadas florescentes para o piso da sala;

– recuperação das janelas dos quartos, parcialmente destruídas por cupins;

– implantação de duas lixeiras embutidas nos armários da cozinha, que separam o lixo orgânico do reciclável.

 

Alexandra Lichtenberg não está sozinha

Conheça outros projetos residenciais sustentáveis que vêm dando o que falar no Brasil e no mundo:

– Em Pernambuco, o artista plástico Juliano Riciardi construiu a Casa Colmeia, uma moradia ecológica de 600 m² que utiliza técnicas de Permacultura, um sistema de design sustentável;

– O arquiteto americano Michael Reynolds criou uma casa autossustentável a partir de garrafas de vidro, latas de alumínio e pneus usados;

– Os profissionais do escritório Heck Yes Design são responsáveis pela Uboat, uma casa flutuante capaz de gerar energia e produzir sua própria água potável;

– No Japão, a casa Mirai Nihon também gera sua própria energia, graças a painéis de captação solar e a um carro que, ao rodar a partir de uma carga elétrica inicial, ajuda no abastecimento elétrico da casa;

– O conjunto residencial SOL, no Texas (EUA), é outro exemplo de arquitetura verde.  Suas casas foram construídas de uma forma que privilegia a instalação de painéis fotovoltaicos e a canalização da água da chuva para armazenagem.

 

Texto: Aline Duraes

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