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Proteção das alturas

Por Cidades e Serviços
Última atualização: 15/11/2016
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Verônica Mondarto

Nos últimos meses do ano, além das festas para comemorar o final de mais um ciclo, chega também a estação mais quente com as altas temperaturas, as chuvas de verão e a temporada de trovoadas. Como consequências, a população enfrenta os transtornos dos alagamentos em diversas regiões da cidade e os bolsões d’água. Somados a tudo isso há ainda a preocupação e o medo dos raios, tão comuns neste período.

O temor é justo porque motivos não faltam para que o sinal de alerta fique ligado, já que o Brasil, um país de grande extensão territorial, é um dos que mais sofre com a incidência de raios, devido sua localização e ao clima tropical. E segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), 45% das “quedas” de raios no Brasil são registradas no verão. Dados do Instituto confirmam que nos últimos anos foram   gravadas mais ocorrências de raios, incidindo principalmente nas grandes cidades, em relação às últimas décadas. Os pesquisadores apontam entre os principais fatores que contribuem para o aumento destes episódios, o aquecimento global, a urbanização e a poluição.

No Brasil, acontecem cerca de 60 milhões de descargas por ano, acarretando a morte de 150 pessoas, de acordo com o Inpe. A Região Sudeste do país, com tempestades severas se tornando cada vez mais frequentes, é uma das mais atingidas por raios. Na cidade do Rio de Janeiro, por exemplo, a estátua do Cristo Redentor é “alvejada”, pelo menos, seis vezes a cada ano. São observados ainda, devido a quedas de raios, incêndios florestais ou em lavouras e interrupções da energia elétrica pela destruição de torres e linhas de transmissão.

Os números são impactantes e nos levam a muitas perguntas: O que é um raio? Como podemos nos proteger deles? Que medidas devem ser adotadas para nossa segurança nas residências, condomínios e edifícios? E quando estivermos nas ruas como proceder para não sermos atingidos por um raio durante uma tempestade ou chuva forte? Será que o condomínio que moro ou trabalho faz a manutenção do para-raios?

O raio é uma força da natureza e contra esta o homem não pode lutar. Apesar de estudar e entender o fenômeno que ocorre antes ou após uma tempestade, não há como interromper ou eliminar a descarga de um raio. O “choque elétrico” pode alcançar até 100 milhões de Volts, cerca de 25 mil graus Celsius, algo semelhante a um milhão de vezes mais forte que o de uma tomada. Não há confronto ou possibilidade de vitória humana contra os fenômenos naturais. É necessário ter consciência de que estamos impossibilitados de reagir diante de um raio e que atitudes responsáveis, como procurar abrigo e permanecer em locais fechados e, de preferência, equipados com para-raios ao deparar-se com a formação de uma chuva forte ou tempestade são imprescindíveis.

Ao atingir o ser humano a descarga elétrica ou corrente do raio pode causar sérias queimaduras no corpo, danos ao coração, pulmões, sistema nervoso central e outros órgãos, conforme sua intensidade. As pessoas atingidas por raios que sobreviveram relatam ainda sequelas psicológicas e orgânicas, como por exemplo, diminuição ou perda de memória, redução da capacidade de concentração e distúrbios do sono.

As consequências danosas e, às vezes, fatais ao ser humano são evitadas com a instalação de para-raios, tecnicamente conhecidos como Sistema de Proteção para Descargas Atmosféricas (SPDA). A Norma – NBR 5.419, de 2005, revisada e complementada em 2015, vigente desde 22 de junho do ano passado – torna obrigatório o equipamento em todo o país e regulamenta as técnicas para seu assentamento em edifícios comerciais, industriais, agrícolas, administrativos ou residenciais. No rol de edificações estão incluídas as fábricas, oficinas, laboratórios, hotéis e apartamentos.

Nos locais que ocorrem agrupamento de público, como por exemplo, igrejas, museus, lojas de departamento, estações e aeroportos, estádios de esportes, escolas, hospitais, creches e outras instituições públicas ou privadas também há regras específicas na norma. As casas distantes das edificações que possuem para-raio ou prédios considerados pequenos ficam menos protegidos, porque não tem a obrigação de aquisição do equipamento, mas nada impede que o instalem.

Contudo, não basta contratar uma empresa especializada para instalar o para-raio. É fundamental uma constante verificação para seu funcionamento adequado. A vistoria visual do equipamento a cada seis meses deve ocorrer antes da manutenção preventiva do sistema e, anualmente ou após a incidência de raio, deve ser efetuada uma inspeção no aparelhamento. A fiscalização mais completa deve ocorrer periodicamente, em intervalos de cinco anos, para estruturas destinadas a fins residenciais, comerciais, administrativos, agrícolas ou industriais, como previsto na Norma. E, segundo a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), a vistoria é de responsabilidade do síndico ou da administradora do condomínio.

Os síndicos dos edifícios devem manter um relatório de verificação do SPDA, denominado Anotação de Responsabilidade Técnica (ART), sobre o nível de proteção do instrumento de para-raio. O documento atesta a responsabilidade do profissional pela estrutura e condições legais da instalação do mecanismo.

Um dos que cumpre a determinação e realiza a vistoria do para-raio anualmente é o síndico Devair Soares da Motta, do condomínio do Edifício Santos Dumont, localizado no Centro do Rio. O prédio de 35 andares inaugurado em novembro de 1975, já foi considerado o mais alto da cidade com 143 metros de altura e teve o sistema de para-raio instalado durante sua construção. Segundo Motta, que há 23 anos é síndico no edifício, hoje, o sexto mais alto do bairro, o equipamento passou por adequações, mas nunca sofreu qualquer tipo de descarga ou raio.

“Uma vez por ano verifico o para-raio e a medição do aterramento, porque apesar do elevado custo para a execução do serviço, a segurança das pessoas está em primeiro lugar”, diz Motta. E completa: “cerca de 2.500 pessoas circulam por dia nas áreas comuns do condomínio e internamente, zelar por elas é minha responsabilidade. Sou da cultura de prevenção”.

Devair explica que a escolha da empresa para o exame e medição do aparelhamento é realizada junto às habilitadas pelo Corpo de Bombeiros. Ele faz uma comparação do para-raio com outro instrumento de segurança: “O para-raio é como o extintor de incêndio, mesmo que não tenha sido utilizado é preciso estar sempre em ordem para a emergência”.

Thais Trindade, síndica ​do Le Quartier Residendes, no Recreio dos Bandeirantes, ​ diz que o equipamento de para-raio está instalado conforme as normas especificadas junto ao Corpo de Bombeiros. Desde 2013 no cargo, a síndica afirma que ​a vistoria do aparelho é efetuada anualmente, no mês de outubro, e que o mesmo não sofreu nenhuma intervenção de raio.  O condomínio, composto de três unidades prediais com dez andares cada, com um total de 256 apartamentos, entregue aos moradores em 2011​, ainda completará cinco anos. Mas “o instrumento de para-raio ​está em perfeitas condições”, assegura Thaís.

O síndico Paulo Albuquerque, do sexagenário Edifício Calógeras, localizado no Centro do Rio, realiza anualmente a verificação do para-raio do condomínio. “No mês de junho faço a manutenção do aparelho, sempre com a mesma empresa, já que esta me atende bem e está certificada pelo órgão competente para tal”, explica Paulo, há 10 anos no cargo. Com relação ao preço, ele afirma que é compatível com o serviço prestado, propiciando segurança aos que ocupam os 13 pavimentos comerciais do prédio e as cerca de 2 mil pessoas que circulam em suas dependências.

Na Zona Sul, em Botafogo, o Condomínio do Edifício Gustave Dore tem à frente a síndica Juliana Lima pelo segundo ano consecutivo, que afirma obter a certificação anual para atestar as condições técnicas do para-raio do prédio. A escolha da empresa que cumprirá com o serviço, Juliana faz juntamente com a comissão de obras, após a análise das propostas recebidas. Moradora desde 2008 no prédio, ela declara que há menos de cinco anos o sistema de proteção foi totalmente modernizado. “Os residentes das 96 unidades do edifício podem ficar tranquilos, cumpro com todas as obrigações competentes ao cargo de síndica”, afirma.

O ideal é que todos os síndicos sigam à risca a determinação da NBR, verifiquem a medição do aterramento, o estado de corrosão e oxidação do equipamento e façam os ajustes para o funcionamento eficaz do Sistema de Proteção para Descargas Atmosféricas (SPDA). Porque, caso ocorra um incidente no condomínio provocado por raios e comprovada qualquer irregularidade no para-raios, como instalação incorreta ou falta de documentação atestando suas condições de acordo com as normas, a responsabilidade será do síndico ou da administradora, segundo a legislação brasileira.

 

CURIOSIDADE

O Para-raios foi criado em 1752 por Benjamin Franklin e é composto, basicamente, por três elementos: um mastro com captador, um aterramento e um cabo de ligação preso a isoladores. Sua eficiência para salvar vidas e evitar desastres é corroborada por técnicos, especialistas, engenheiros e bombeiros.

 

Mitos e verdades sobre Para-raios

É mito…

– Um raio nunca cai duas vezes no mesmo lugar;

– Quando chove não cai raio;

– Ficar embaixo de uma árvore protege contra raio;

– O guarda-chuva não atrai raio, porque tem metal;

– Cobrir o espelho para não atrair raio;

– Não utilizar o telefone fixo ou móvel;

– Não utilizar equipamentos elétricos, como televisão ou utensílios de cozinha.

 

É verdade…

– É seguro falar ao telefone fixo ou móvel durante a tempestade dentro de casa;

– Evitar permanecer nas varandas abertas ou embaixo de toldos;

– Para se proteger em campo aberto, campo de futebol, jardim ou pátio o ideal é ficar agachado, com a cabeça e as mãos entre os joelhos;

– Não deitar ou sentar no chão para admirar as tempestades e raios;

– Não ficar dentro de piscina ou no mar e não tomar banho de chuveiro elétrico, porque a água é condutora de eletricidade e pode atrair raios;

– Buscar abrigo em locais fechados ou subterrâneos, como estação de metrô ou túneis;

– O raio atinge mais rapidamente objetos mais altos, utilizando o caminho mais curto. Por isso, não se deve procurar abrigo em locais altos e descampados;

– Evitar segurar objetos metálicos grandes, como vara de pescar ou enxada;

– Não praticar atividade física ao ar livre, como natação ou andar de bicicleta;

– Evitar a locomoção com motos durante as chuvas e tempestades;

​- Utilizar veículos com capotas para sair;

– Durante uma viagem, na estrada, procure permanecer dentro do carro, com as janelas fechadas. O risco de ser atingido do lado de fora do veículo aumenta muito por causa da lataria que atrai a eletricidade;

– A estrutura de metal dos aviões é segura e funciona como uma blindagem para quem está dentro.

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