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Desafios para o planejamento urbano

Por Cidades e Serviços
Última atualização: 17/12/2020

Cityscape of Wuxi
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Carlos Krykhtine: Urbanismo para o presente e o futuro

Carlos Krykhtine - urbanista
Para Carlos Krykhtine, a pandemia acelerou um processo que já era visto como inevitável: as novas relações de trabalho e moradia promovidas pelo home office.

 

Quem não é da área, talvez não perceba o tamanho da importância do urbanismo e de todo o planejamento urbano no dia a dia da uma população de uma cidade. No entanto, questões como qualidade de vida e desigualdade social estão diretamente ligadas ao tema. Mestre em gestão ambiental e coordenador de informações da cidade no Instituto de Urbanismo Pereira Passos (IPP), no Rio de Janeiro, o arquiteto e urbanista Carlos Krykhtine falou sobre os desafios e tendências para o segmento nos próximos anos. 

Qual a importância de um planejamento urbano para uma cidade?

Krykhtine: Toda cidade precisa de um planejamento urbano para regular suas funções. Quanto melhor esse planejamento, mais equilibrada e justa essa cidade será, promovendo economia e bem-estar aos seus cidadãos. Outro detalhe é que esse planejamento precisa ser contínuo, pois os tempos mudam, as tecnologias mudam e os costumes também.

 

Quais são os problemas mais comuns de urbanismo encontrados nas cidades brasileiras?

Krykhtine: Há enormes desafios com o saneamento básico das cidades, mas também com o equilíbrio financeiro necessário aos serviços públicos, como educação, saúde e as melhorias urbanas. Muitas cidades se expandiram sem o devido planejamento – de maneira informal ou até mesmo dentro da lei -, sem observar os custos coletivos dessa expansão. Uma das consequências disso, por exemplo, é um aumento desigual das distâncias entre os locais de trabalho e as moradias.  

 

Por conta da pandemia, muitas empresas colocaram os seus funcionários em home office e alguns até acabaram decidindo por manter a prática de forma permanente. Em grandes cidades, como o Rio de Janeiro e São Paulo, essas mudanças vêm impactando as regiões centrais, com o fechamento de escritórios e, consequentemente, de lojas e serviços próximos. Qual a sua avaliação sobre essa transformação? Essas regiões devem mudar o seu perfil ou você acha que é algo passageiro?

Krykhtine: Esse é o grande desafio que a pandemia trouxe. Ela acelerou um processo que já era visto como inevitável: as novas relações de trabalho e moradia promovidas pelo home office. Os grandes centros urbanos já estavam passando por esvaziamentos mesmo antes do acontecimento da pandemia, mas esse problema agora se tornou urgente. 

Os centros, mais do nunca, precisarão de um retrofit de suas funções. Há muito tempo se almeja o retorno das moradias às áreas centrais e essa pode ser a oportunidade de acelerar esse processo. Outra crise que já está instalada é a dos transportes urbanos, que foi muito afetada por esse novo normal e precisará de alternativas. 

 

Em sua opinião, o que é preciso para resolver essas questões?

Krykhtine: Não há soluções fáceis ou simples para as cidades. Para embasar um planejamento urbano robusto, que promova a resiliência necessária, é essencial investir em informação. As cidades são grandes produtoras de dados no seu dia a dia. O sensoriamento e monitoramento do que acontece é importante e, mais do que isso, trabalhar esses dados com inteligência, para que se tornem úteis. Hoje, está em voga o termo smart cities

Outra questão é a governança desse planejamento. É necessária uma teia complexa de participações sociais e econômicas, embasada nas evidências de estudos e diagnósticos, para se tomar as decisões corretas e consolidadoras. 

 

Como você avalia o avanço do planejamento urbano no Brasil nos últimos anos em comparação a outros países? Estamos atrasados ou não na discussão do tema?

Krykhtine: Muitos instrumentos legais surgiram trazendo ferramentas novas, como as colocadas pelo estatuto das cidades e o estatuto das Metrópoles, mas, ainda é um desafio grande colocá-las em prática. A questão regional, por exemplo, precisa ainda andar muito, pois uma cidade não acaba nas suas fronteiras delineadas no papel. Ela continua ligada aos municípios vizinhos. Seus problemas se misturam e são imbricados. 

A estrutura institucional das cidades brasileiras é única. No resto do mundo essa visão administrativa é mais regionalizada do que aqui. Na pandemia, por exemplo, pudemos ver claramente as diferenças com que cada município promoveu as suas respostas. Estratégias muito assimétricas para municípios vizinhos.

 

Em relação às tendências de planejamento, elas vêm mudando com o passar dos anos ou continuam as mesmas?

Krykhtine: O planejamento urbano vem mudando sim ao longo do tempo e da história, porque a sociedade também se transforma. No Modernismo, as cidades eram pensadas mais compartimentadas nas suas funções, com setores mais exclusivos para determinados usos. Veja o exemplo dos setores de Brasília. Havia, também, grande preocupação com o automóvel e seu uso particular. 

Hoje, as cidades estão se transformando para usos mais misturados, em soluções mais compactas e de grande proximidade. É crescente a tendência para olhar as cidades como um componente da saúde: se eu puder andar em segurança, é mais saudável do que eu dirigir.  Há também a vertente nutricional, com a produção de alimentos mais próximos do seu consumo.

 

Quais são as principais tendências em urbanismo para as grandes cidades brasileiras nos próximos anos?

Krykhtine: Há um caminho sem volta que é a automação das cidades. Os municípios são grandes usinas de informações urbanas, seja no ir e vir dos GPSs, seja nos dados administrativos que se imputam nos sistemas municipais todos os dias. Tudo isso pode ser usado para melhorar o desempenho das estruturas que já temos instaladas. Semáforos poderão abrir e fechar de maneira mais inteligente, reduzindo gargalos no trânsito; bueiros com sensores podem avisar quando precisam ser limpos; câmeras de reconhecimento podem rastrear um roubo; prontuários médicos digitais podem acelerar o atendimento de saúde há um cidadão; e o celular pode lhe avisar sobre um risco durante as chuvas. 

Enfim, são muitos recursos que já estão disponíveis e que surgirão com a chegada da internet das coisas agora com a implantação das bandas 5G. Tudo isso irá transformar os diagnósticos urbanos, irá tornar o planejamento urbano mais dinâmico e  com certeza mudará a forma como desenhamos as cidades ou adaptamos elas.

Por: Gabriel Menezes

 

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