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Edifício Copan: um marco na história de São Paulo

Por Cidades e Serviços
Última atualização: 22/09/2023

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Por: Mario Camelo

 

Icônico, emblemático, grandioso, sinuoso… São palavras que definem o Edifício Copan, um dos maiores ícones da cidade de São Paulo, e queridinho dos paulistanos. Com um total de 1.160 apartamentos, dos mais variados tamanhos, o Copan possui uma quantidade de habitantes que gira em torno de 5 mil moradores em seus 32 andares, segundo a administração do edifício. Uma quantidade maior do que os habitantes de mais de 250 municípios brasileiros, segundo o último Censo 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). É considerado o maior complexo habitacional do Brasil.

As suas unidades e corredores – as mais variadas possíveis, já que existem seis blocos no complexo, todos diferentes um do outro, com vários tipos de plantas – já foram cenário de filmes, séries, ensaios fotográficos, e também da mais criativa prole de histórias, principalmente sobre fantasmas e espíritos, conhecidos entre os moradores como “os fantasmas do Copan”. Entre os condôminos ilustres, o estilista Walério Araújo e mais recentemente, a cantora Manu Gavassi também adquiriu uma unidade por lá.

Em seu primeiro piso, também há unidades comerciais, como o famoso Bar da Onça, que lota diariamente, e a Vídeo Connection, a locadora de vídeos que até hoje resiste à era do streaming com vários DVDs para escolher e levar.

Com projeto arquitetônico de Oscar Niemeyer, em colaboração com o arquiteto Carlos Alberto Cerqueira Lemos, o Edifício Copan foi projetado na década de 50, época em que havia um movimento de verticalização em São Paulo. Porém, sua construção só foi aprovada em 1953 e se arrastou por toda a década, afinal, subir um edifício como esse não era algo comum, e menos ainda barato. Foi somente em 1957, quando o Bradesco comprou os direitos de construção, que a obra avançou. Em 1961, as partes de alvenaria e concreto armado foram concluídas, para o posterior lançamento em 1966.

Nesta época, São Paulo já ultrapassava o Rio de Janeiro, em termos de população. “A leveza das linhas curvas do Copan, que lhe dão uma sensualidade em meio à ‘selva de pedra’ do centro da cidade, quase nem nos faz notar que se trata de uma edificação de trinta e dois andares distribuídos nos seus 115 metros de altura. Por isso o Copan é o queridinho dos paulistanos e admirado por todos os que visitam a cidade”, diz Celso Ramos, historiador e professor da Estácio.

O historiador explica que o projeto original do COPAN, apresentado em 1951, foi inspirado no Rockfeller Center, de Nova Iorque, e previa a construção de dois edifícios, sendo um deles um hotel, e uma área de convivência e centro comercial no térreo. 

“Era para ser, portanto: ‘Um monumento à grandeza de São Paulo, um Rockfleller brasileiro’, dizia a mensagem publicitária que informava ao público o projeto. Trata-se de uma iniciativa da Companhia Pan-Americana de Hotéis e Turismo (daí o nome do edifício, COPAN), que pretendia entregá-lo a São Paulo por ocasião das comemorações do aniversário de 400 anos da cidade”, explica.

O historiador cita as palavras de Niemeyer para definir a grandeza de uma construção como o Edifício Copan e a sua sinuosidade, as características curvas presentes nas obras do arquiteto: “Não é o ângulo reto que me atrai. Nem a linha reta, dura inflexível, criada pelo homem. O que me atrai é a curva livre e sensual, a curva que encontro nas montanhas do meu país, no curso sinuoso dos seus rios, nas ondas do mar, no corpo da mulher preferida”.

Para Celso Ramos, o Copan é ambíguo: “Ele contém em si o esforço de São Paulo para se modernizar através de gigantescas intervenções urbanas que alteram drasticamente a paisagem, provocando a sensação de que este lugar não pertence a ninguém e ninguém pertence a ele. E, ao mesmo tempo, suas formas sensuais são uma resistência a esse mesmo processo que o criou. Suas curvas delicadas prendem o olhar. Inquietam. Me levam à reflexão de como São Paulo seria muito mais bonita se o pragmatismo das suas construções cedesse um pouquinho à arte e à ousadia, tal qual vemos no Copan”.

 

Símbolo de poder e de crescimento

Mais do que um celeiro de histórias dos seus mais de 5 mil moradores, do ponto de vista arquitetônico, o Edifício Copan representa poder e expansão.

“O Edifício Copan é um símbolo do processo de crescimento e expansão do centro novo de São Paulo. Era mais que um edifício com apartamentos e lojas, algo que já se fazia nesta região da cidade, era um edifício de grande porte, com estrutura ousada e grande poder simbólico da força da economia da cidade no período”, diz  Luiz Gustavo Sobral Fernandes, professor do curso de Arquitetura da Estácio.

Ele explica que o Copan é muito característico dos edifícios que Niemeyer projetou neste período, principalmente em São Paulo e em Belo Horizonte. 

“Nesta época, o arquiteto fez projetos para o mercado imobiliário, encomendas privadas que, muitas vezes, acabam tendo alterações na execução que não o agradaram. Niemeyer misturou elementos da arquitetura moderna internacional, como o brise-soleil, com traços criados por ele próprio, como curvas e pilares de formato orgânico”, diz.

O brise-soleil é uma expressão francesa usada para denominar os elementos sombreadores utilizados nas construções para evitar o impacto da luz do sol. O Copan, por exemplo, é todo revertido com esses elementos, que podem ser feitos dos mais variados tipos de material e aplicados de muitas maneiras em projetos de arquitetura. 

Junto ao Masp, à Paulista e ao Ibirapuera, o edifício se tornou um dos maiores pontos turísticos da cidade de São Paulo. Não é difícil encontrar em aplicativos de locação por temporada unidades dos mais variados tamanhos disponíveis aos curiosos que desejam conhecer o interior do prédio e viver a “experiência Copan”.

“Hoje, o edifício é um símbolo da cidade. Mas nem sempre foi assim, diria que ele se consolidou como símbolo ao longo do tempo e, principalmente, nos últimos 20 anos de existência. Durante muitos anos, o Copan foi visto como um edifício degradado. Somente mais recentemente que voltou à moda”, reflete o arquiteto.

Vintage ou moderno, o Edifício Copan ainda impressiona, e muito, pela sua grandiosidade. O historiador Celso Ramos tem uma boa definição para o seu significado:

“Diversas vezes me pego enxergando no desenho do Copan um “s” bem suave. E, no instante seguinte, vejo um “p”. Temos então o SP de São Paulo. Por tudo isso, o Copan é, para mim, um dos mais emblemáticos – se não o mais – dos edifícios da nossa paulicéia desvairada”, conclui.

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