Como gastar menos na água e ainda desenvolver consciência ambiental?
Por Cidades e Serviços
Última atualização: 11/04/2024
Economia
A implementação de medidores de água individuais nos condomínios está transformando a forma como as despesas são compartilhadas, garantindo que cada residente pague apenas pelo que realmente consome. A transição para este sistema não só resulta em economia nas contas de água dos moradores, mas também contribui para a conscientização sobre a importância da preservação ambiental.
Especialista no assunto, o engenheiro civil e administrador de empresas Fabio Ferro, da Planedo Engenharia, explica que condomínios que visam realizar a individualização do consumo de água devem adotar uma abordagem cuidadosa e meticulosa para evitar contratempos durante o processo de contratação e execução da obra. A individualização não é uma tarefa trivial; um projeto mal dimensionado pode levar a sérios problemas de pressão e vazão. Portanto, é essencial a supervisão de um engenheiro especializado em todas as etapas, desde a seleção dos fornecedores até a conclusão da obra. Este profissional assegurará que o processo seja conduzido de forma adequada, minimizando riscos e garantindo a qualidade e eficácia da individualização do consumo de água.
Ele acrescenta que é fundamental a realização de um estudo de viabilidade para analisar o potencial de economia e estimar o tempo necessário para o retorno do investimento do projeto. Se houver necessidade de adequar as instalações hidráulicas do prédio, deve-se elaborar um projeto detalhado, mostrando os trajetos das novas tubulações e realizando os dimensionamentos necessários.
“Durante a execução da obra de adequação hidráulica, que inclui a instalação dos hidrômetros e da tecnologia associada, é crucial avaliar cuidadosamente a tecnologia e metodologia mais adequadas ao perfil de consumo do prédio. Uma escolha inadequada pode levar a um aumento nas contas de água em vez de uma redução. Por isso, é essencial realizar uma análise criteriosa para garantir a eficácia e eficiência do sistema de individualização do consumo de água”, explica.
O especialista ressalta que os custos associados à individualização do consumo de água podem apresentar variações significativas entre diferentes projetos, influenciados pelas características particulares e pelas tecnologias utilizadas. Em edificações modernas, preparadas para acolher medidores individuais, os custos tendem a ser próximos de R$490,00 por unidade habitacional. Por outro lado, em edifícios mais antigos, que necessitam de adaptações e renovação das instalações hidráulicas, o investimento inicial pode ser de, no mínimo, R$4.000,00 por unidade.
O que determina a legislação?
O engenheiro explica que, desde junho de 2021, a Lei 13.312/2016 impõe a obrigatoriedade de medição individual de água nos novos prédios em território nacional, visando ao detalhamento do consumo por unidade residencial. Contudo, no Rio de Janeiro, pela falta de uma normativa que exija das empresas fornecedoras a apuração individual, os conjuntos habitacionais precisam organizar-se para essa finalidade. Tal organização envolve a seleção de firmas responsáveis pela instalação e monitoramento do uso. Neste contexto, é imprescindível que os procedimentos adotados estejam alinhados aos critérios da norma NBR 5626, com o intuito de prevenir problemas como redução de pressão e vazamentos no sistema de encanamento.
Já áreas como São Paulo e Goiás, onde o serviço de leitura por unidade já é uma prática das companhias de água, exigem que os edifícios cumpram com especificações técnicas para a validação da medição independente. Os administradores podem tanto realizar as adaptações necessárias e passar a gestão para a empresa fornecedora quanto manter a administração interna. Optar pela gestão própria pode ser mais econômico em termos de implantação e contribuir para uma diminuição mais acentuada do gasto hídrico, configurando-se como a opção mais benéfica.
“Um elemento vital, mas frequentemente esquecido, é que delegar a medição à fornecedora pode levar a um acréscimo nos valores individuais devido às políticas tarifárias adotadas. Portanto, é aconselhável que as administrações condominiais efetuem simulações com diferentes abordagens de cobrança para identificar a alternativa mais conveniente”, comentou.
Sistemas de individualização
Existem diferentes sistemas de individualização de água para condomínios. O engenheiro Fabio Ferro explica os mais comuns. O primeiro deles é o de leitura manual ou fotometria. “Esta abordagem envolve a visita mensal de um funcionário ao condomínio para efetuar as leituras de cada medidor de maneira manual, o que inclui o registro dos dados e a captura de fotos. Apesar de ser a opção mais econômica devido à sua natureza manual, esta modalidade tende a apresentar um número maior de divergências nos registros. Além disso, exige que uma pessoa estranha circule pelos corredores do condomínio, o que pode comprometer a segurança do local. Por estas razões, é considerada a menos recomendável dentre as opções disponíveis”, explica.
Outra opção é o sistema por radiofrequência: Este método realiza a medição do consumo de água de cada residência mensalmente através de radiofrequência, enviando os dados diretamente para um dispositivo da empresa responsável pela gestão do consumo. Contudo, ainda é necessário que um leiturista visite o condomínio, aproximando-se dos medidores para assegurar a exatidão dos dados coletados. Esta exigência pode afetar a segurança e a privacidade dos moradores.
É relevante notar que, sendo um sistema importado, está sujeito a variações cambiais, podendo acarretar custos imprevistos para o condomínio. Adicionalmente, a frequência utilizada é exclusiva, implicando que apenas o fabricante pode acessar os dados de leitura, deixando o condomínio dependente desse fornecedor específico.
“Um aspecto crítico é que a leitura é efetuada somente uma vez ao mês, o que pode não ser suficiente para uma detecção precisa de vazamentos ou outras irregularidades no consumo de água. Isso pode levar a atrasos na identificação e solução de problemas, impactando negativamente na eficiência e economia do condomínio”.
Há, também, a medição Inteligente
“Esta solução representa a vanguarda em leitura de hidrômetros individuais, oferecendo uma administração totalmente automatizada, sem necessidade de intervenção humana, assegurando a máxima precisão e eficácia. As leituras são realizadas online e transmitidas automaticamente para uma plataforma de Business Intelligence, onde são analisadas detalhadamente para identificar qualquer irregularidade ou vazamento”, explica.
Ele acrescenta que alertas sobre anomalias são gerados instantaneamente e enviados para o aplicativo de cada condômino, permitindo um controle total sobre o consumo de água. Através deste aplicativo, os moradores podem monitorar seu consumo diário, obter previsões precisas sobre o valor da fatura e receber alertas em tempo real de possíveis vazamentos, contribuindo significativamente para evitar desperdícios e, consequentemente, aumentos na conta.
“A adoção dessa tecnologia inteligente não apenas promove uma gestão transparente das leituras, envolvendo ativamente todos os condôminos, mas também resulta em uma economia substancial em comparação com outras modalidades de leitura de hidrômetros individuais. Representa um investimento que otimiza a eficiência do condomínio e fomenta uma cultura de sustentabilidade e responsabilidade ambiental entre os residentes”.
Economia impacta no orçamento de condomínios
Quem adotou os medidores individualizados de água conta que logo sentiu a diferença no orçamento. O Condomínio Península Fit, na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, é um exemplo. De acordo com o síndico, Adalberto Martins da Silva, o processo de instalação foi muito bem planejado.
“Fizemos licitações com um leque de empresas e criamos uma comissão interna de moradores para participar de perto desse processo, o que foi algo fundamental. A partir daí, fizemos visitas técnicas para conhecer as concorrentes interessadas em oferecer o serviço, até escolher a ideal”, explica.
Ele afirma que a redução no consumo de água geral caiu em média 40% desde a mudança: “A conscientização gerada pelo consumo individual acabou refletindo nas áreas comuns do condomínio. O desperdício diminui bastante”, diz.
Em Goiânia, o condomínio Parque Cerrado III, com 240 unidades, também passou pelo processo, que assim como no caso anterior, foi feito pela Planedo Engenharia. O síndico, Eronildo Ribeiro Junior, conta que o alto valor na fatura da conta de água do condomínio foi o motivo principal da decisão: “Havia casos em que pessoas ofereciam o serviço de lavagem de roupas para fora em suas casas, o que é algo completamente injusto com os vizinhos. A individualização impactou bastante o nosso orçamento. Conseguimos diminuir a taxa do condomínio, que tinha justamente a água com a grande vilã”, lembra.
Por: Gabriel Menezes