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Já pensou em embarcar numa jornada do tempo, vindo do passado direto para a vida moderna?

Por Cidades e Serviços
Última atualização: 20/05/2024

Victor Niskier_Projeto Retrofit_Lília Mendel-8 (1)
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Em cidades grandes e amontoadas de habitantes, como Rio e São Paulo, modernos condomínios e toda a sua infraestrutura disputam espaço com alguns edifícios que já ostentam marcas do tempo. Neste cenário, umas das soluções bastante requisitadas nos dias de hoje tem sido o uso do Retrofit.

 

Nascido do conceito inglês “retrofitting”, que significa “adaptar para novos usos”, o Retrofit se configura como uma revolução estratégica na revitalização de edifícios. Mais do que uma simples maquiagem, ele repagina a estrutura, os sistemas e a estética do condomínio, harmonizando-os com as necessidades e expectativas dos moradores do século XXI.

 

De fato, o Retrofit não se limita a dar um novo visual ao condomínio. Ele é capaz de impactar inúmeros fatores que hoje já são imprescindíveis para a vida em comunidade, como a garantia de maior eficiência energética no uso do imóvel; acessibilidade universal, que possibilite a inclusão de todos; instalações que tragam maior conforto e bem-estar, o que inclui contar com um ambiente mais agradável e propício ao lazer e à convivência; além, é claro, da garantia da segurança para todos os moradores.

 

Com esses critérios atingidos, a expectativa é a de que um condomínio revitalizado se torne mais atraente no mercado imobiliário, com unidades que podem ter seu valor aumentado em até 30%. Ótimo, não é mesmo?

 

A gente conversou com o arquiteto Victor Niskier, do escritório Arqnisk, responsável por um recente projeto entregue em uma das ruas mais famosas do Rio de Janeiro, a Delfim Moreira. O Ziad é um condomínio multifamiliar, que, definitivamente, abriu as portas para uma vida condominial mais moderna, sustentável e bonita, mas preservando toda a sua personalidade e memória afetiva. Confira a entrevista, a seguir.

 

Síndico: O que o inspirou a trabalhar com projetos de Retrofit em condomínios multifamiliares?

Victor: Acredito que tenha sido esse meu olhar para a escala dos imóveis com valor alto agregado, que são minha especialidade. Muitas vezes, a falta de compreensão de que a área comum faz parte do todo, quando nos referimos à valorização ou depreciação do imóvel, tornam apartamentos incríveis, invendáveis. Principalmente, na zona sul carioca e em imóveis de alto padrão. Digo isso porque a aparência do prédio em edifícios que não dispõe de nenhum outro atrativo, se torna tão decisiva quanto sua localização. Gosto de destrinchar comportamentos, sou filho de sociólogos. Então, a atração ou repulsão frente a um prédio tem um porquê, que na arquitetura devemos analisar. Com meus clientes, o intuito é sempre aumentar o valor agregado, seja do condomínio como um todo ou de uma única unidade residencial. É o mesmo pensamento no macro ou micro.

 

Síndico: Você já tinha realizado um projeto similar antes?⁠

Victor: Sim. A Arqnisk – empresa que conduzo e leva meu nome, atuando no RJ e SP – tem um mix interessante, misturando sempre o mesmo perfil de imóveis. Há sempre algum imóvel corporativo querendo ares de lar; um multifamiliar (condomínio); coberturas; apartamentos grandes da década de 50, sem suíte alguma, precisando de mágicas sem elevação de piso (que, é claro, ninguém gosta). Ao redor do Condomínio Ziad, na praia do Leblon, temos pelo menos outros 5 com intervenções da Arqnisk.

 

Síndico: Quais são os principais desafios ao realizar um projeto de Retrofit em um condomínio multifamiliar?

Victor: O maior desafio é transmitir a impessoalidade sofisticada, que faz até o mais cético morador entender quanto o resultado transformou o condomínio para algo melhor. Não é a forma de se atuar em um unifamiliar, na unidade de alguém, em que as peculiaridades daquela persona moradora podem ficar estampadas. Tem que entender bem que é um espaço comum, e deve agradar do mais ultra-classicista ao contemporâneo, passando por todos os dégradés de gostos.

 

Síndico: Como você equilibra a preservação da arquitetura original com as necessidades modernas dos moradores?

Victor: Isso é um bom ponto. Minha interpretação busca bastante andar em sintonia com os órgãos de preservação. Se está conservado, tem que ser valorizado e destacado. E se não está ou sofreu descaracterizações ao longo dos anos, temos a liberdade de resgatar ou adotar o contemporâneo.

 

Síndico: Quais são as vantagens de investir em Retrofit em comparação com a construção de um novo edifício?

Victor: A Legislação vigente. Por isso, a maior parte das casas e prédios dos grandes centros optam sempre por obras de reforma. A questão pode nem ser financeira, porque dependendo da reforma, pode sair mais cara que a construção. É o fato de no momento de construção de uma edificação mais antiga, as leis anteriores eram, em sua maioria, mais missivas – maiores índices de ocupação do solo, taxas de edificação, gabaritos de altura, alinhamentos frente à caixa de rua. Com isso, é melhor você reformar de acordo com as condições anteriores do que construir do zero, seguindo as atuais. É uma questão estratégica.

 

Síndico: Como você aborda questões de sustentabilidade em seus projetos de retrofit?

Victor: O Retrofit por si só já é uma opção ecologicamente mais correta. A redução da produção de resíduos, por não haver a demolição, já torna tudo super interessante. É importante a compreensão do processo de produção de cada material empregado, suas certificações. A busca por atualização em feiras nacionais e internacionais é essencial.

 

Síndico: Como você envolve os moradores no processo de planejamento e execução do Retrofit?

Victor: Em primeiro lugar, deve ser feita uma eleição de comissão e apresentação do Estudo Preliminar – que deve ser amplamente debatido até se chegar ao projeto ideal. Será no momento da Assembleia que o Estudo Preliminar deverá ser apresentado para a aprovação ou não da reforma, quanto aos valores e projeto. Há moradores que gostam de nos procurar para opinar após todo o processo já ter sido votado. No entanto, há decisões que dependem da unanimidade. Tudo precisa ser avaliado caso a caso, mas após todas as definições, não há como se mudar de ideia. Caso isso aconteça, o profissional terá que saber conduzir e demonstrar os prejuízos em termos de tempo e valores que uma alteração após o momento do Estudo Preliminar geram.

 

Síndico: Quais são os aspectos mais importantes a serem considerados ao projetar espaços compartilhados em um condomínio multifamiliar?

Victor: A funcionalidade, os fluxos e a quantidade de usuários. As soluções vão variar drasticamente se é um condomínio com fluxo baixo, contando com 5 unidades, por exemplo, ou se tem um fluxo altíssimo por contar com cerca de 500 unidades. O arquiteto só acerta em um projeto com a observação da rotina e necessidades daquele espaço individualmente, sem fórmulas.

 

Síndico: ⁠Como você lida com a regulamentação e os requisitos legais ao realizar projetos de Retrofit?

Victor: É necessária sempre a consulta aos órgãos competentes. Para isso contamos com o apoio de profissionais capazes em diferentes matérias. É uma assessoria terceirizada.

 

Síndico: Pode nos contar sobre alguma etapa dentro do projeto que tenha sido especialmente desafiadora ou gratificante para você?

Victor: O mais gratificante é o resultado e a percepção de que muitas vezes intervindo no espaço privado conseguimos gerar um movimento em escala urbana de melhorias. Os vizinhos se animam com a reforma do seu cliente, e decidem, sem nada combinado, dar um “tapa” pequeno ou fazerem uma reforma tão significativa quanto. Muitas vezes, nosso poder com o projeto, muda a impressão para melhor de uma rua inteira.

 

Síndico: Sobre a escolha dos produtos, o que precisa ser considerado diante das necessidades de uso para cada ambiente?

Victor: Em condomínios, o bom projeto deve considerar elementos resistentes. Às lavagens, ao fluxo, às vezes, até para a passagem de carga. Todos os pontos devem ser enxergados com lupa, diferente de um espaço privado em uma unidade, pois há normas para serem atendidas e materiais que podem ou não serem usados.

 

Síndico: Como você imagina o futuro dos projetos de Retrofit em condomínios multifamiliares, considerando as tendências atuais e futuras na arquitetura e no desenvolvimento urbano?

Victor: Esse BOOM não vai parar. O Rio de Janeiro é uma cidade de interesse internacional. O metro quadrado é caro porque há investidores do mundo inteiro interessados, a competição não é só com o mercado local. A bola da vez será Copacabana. Todos os bairros ao redor – até mesmo Botafogo, com suas limitações de trânsito, um cemitério no bairro e praia distante da maior parte das ruas, já passou por essa transformação e é, sem dúvidas, o bairro mais descolado do Rio hoje. Então, porque não Copacabana? Do lado de Ipanema e tão perto do Leblon… Os edifícios – outrora chiques – dos anos 50, da época do Rio de Janeiro, Capital Federal, estão sendo cercados. Botafogo vai parar de ter opções de construção e Ipanema e Leblon já vão ter passado por todos os retrofits possíveis. Por isso, acredito que Copa voltará a ter dias de glória. Não sei se em 5 anos, 10 anos, 15 anos ou 20 anos. Depende do mundo e da economia carioca. Mas essa hora aposto que chegará.

Por: Cintia Laport

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