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Mulheres síndicas e unidas, jamais serão vencidas

Por Cidades e Serviços
Última atualização: 08/03/2023

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No Dia Internacional da Mulher, conheça exemplos de mulheres síndicas que comandam com muita competência seus condomínios e descubra sobre a participação delas neste mercado.

Celebrado a cada 8 de março, o Dia Internacional da Mulher é muito mais do que apenas uma data comercial ou um dia para homenagear as mulheres. A data nos faz lembrar da luta constante por igualdade de gênero, por paridade de salários no mercado de trabalho, por reconhecimento, por mais espaços de poder em todas as áreas da sociedade, entre tantas outras lutas batalhas diárias. 

Comemorado desde o começo do século 20, quando foi oficializado pela Organização das Nações Unidas, o dia também serve para provocar reflexões. Afinal, qual o lugar da mulher no seu espaço, na sua empresa ou mesmo na sua família? Em se tratando do universo dos condomínios, alguns dados recentes mostram que a participação feminina se faz presente, está crescendo e é muito importante.

Um estudo realizado em 2022 pela ABRASSP (Associação Brasileira de Síndicos e Síndicos Profissionais) mostrou que mais de 68 milhões de pessoas moram em condomínios no Brasil, que são administrados por mais 421 mil síndicos e síndicas. Deste total, 49% são homens e 51% são mulheres, um resultado bastante equilibrado. Em contrapartida, entre o total de síndicos cadastrados na APSA Administradora de Imóveis no último ano, sem contar os síndicos PJ, há 34% de mulheres para 66% homens. 

Segundo o Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV-IBRE), em estudo divulgado em 8 de março de 2022, 51,56% das mulheres estavam empregadas em 2021; entre os homens, o índice é de 71,64%, o que mostra que há mais mulheres desempregadas, de maneira geral, no Brasil. Mas a verdade é que, de acordo com os especialistas, o perfil feminino pode trazer muitas vantagens em cargos de liderança, apesar delas ainda enfrentarem preconceitos de gênero e desigualdade salarial, fatores que diminuem a empregabilidade. 

A gestora de carreira e neurocientista Andrea Deis afirma que, devido a certas características, as mulheres têm um perfil que pode trazer muitas vantagens no ambiente corporativo ou em funções de liderança, como a de síndico.

“A mulher, hoje, no mercado de trabalho vive um mundo ambíguo, ansioso e volátil. No entanto, a mulher é muito mais intuitiva. Ela tem uma sensibilidade mais apurada, uma afetividade, ela tem o olhar mais aberto, então, ela consegue prestar mais atenção e olhar para vários pontos diferentes ao mesmo tempo e, assim, buscar oportunidades. Ela tem um olhar também mais aguçado para a coletividade, e isso também é estrutural, cultural. Então, com essa estrutura de pensamento coletivo, ela se torna mais criativa pela intuição e sensibilidade, até na hora de dividir as tarefas e de compartilhar recursos. Tudo isso traz um diferencial para a mulher bastante importante”, diz a especialista.

Andrea alerta que, dependendo de como essas características de força são externalizadas, elas podem colocar a mulher num lugar de vulnerabilidade, pois nem sempre ela é compreendida. “A percepção do perfil de personalidade da mulher não é o que se espera estruturalmente do mercado de business, que é um mercado que se formou de um jeito machista e onde a mulher assumiu, inicialmente, um lugar de submissão, que obviamente, não existe mais”.

Trabalhando, atualmente, no mercado corporativo, com perfis de liderança, Andrea Deis diz que o espectro da liderança já é algo inerente ao homem, adquirido, mas que a mulher ainda precisa provar suas competências. “O que eu percebo é uma jornada que se desenvolveu muito, mudou, inclusive devido às novas leis e à proteção ao assédio, e isso deu uma intimidada em certas práticas, mas a mulher ainda precisa se impor muito mais e de várias formas. Estudos mostram que ela se prepara muito mais, tem jornadas triplas, tem a flexibilidade de se adaptar, mas ela ainda tem sido colocada à prova”. 

No futuro, a especialista vê uma geração que não vai mais aceitar qualquer tipo de preconceito de gênero: “Vejo que, hoje, há uma geração que não aceita mais estereótipos do corpo ou de estrutura cultural e que enxerga o outro pelo talento e isso é uma mudança global em questão de valores. Então, acho que não tem espaço no futuro para a desigualdade de gênero. Percebo um futuro intolerante a essa desigualdade, e à desigualdade salarial, de posições de poder em relação aos homens, coisas que, infelizmente, ainda existem”, diz.

 

Na prática, síndicas provam que o perfil da mulher na função é eficiente

Síndica do Condomínio do Edifício Limoges, em Copacabana, de 169 unidades, Denise Alves exerce a função desde 2014. Com uma carreira de secretária executiva, na época em que assumiu, ela trabalhava com o marido num negócio próprio, mas buscava uma oportunidade de retornar à área comercial. 

“Nessa época, eu fui abordada por um condômino do edifício onde tínhamos uma sala que me sugeriu a função de síndica por confiar muito na minha índole. Primeiro, ele me chamou para participar de uma assembleia. À primeira vista, eu não gostei. Vi que havia muita confusão, conflitos bem pesados, então fiquei um pouco receosa, mas este mesmo morador me sugeriu que entrasse primeiro no Conselho do prédio”, afirma ela.

E assim Denise o fez. Entrou no Conselho e, aos poucos, foi conhecendo melhor o prédio, os moradores, as pendências e tudo o que a função necessitava. Pouco tempo depois, ela assumiu como síndica e decidiu ir sanando aos poucos os problemas que enxergava dentro do condomínio. A experiência na área administrativa foi essencial para que ela conseguisse encarar a função. Aos poucos, ela foi estudando, fazendo cursos, se informando e crescendo enquanto síndica.

“A vontade de fazer as coisas darem certo foi me guiando. Como eu digo, o síndico não precisa de canudo, nem ser um alto intelectual. Ele precisa de três coisas: ser transparente, honesto e organizado. E principalmente ter um conselho coeso. Se não tem um conselho coeso, vai ter problemas”, afirma.

Mas nem tudo são flores. Denise ouviu algumas poucas e boas neste percurso. E, em alguns momentos, chegou a ser desrespeitada por moradores. 

“Me disseram que se eu fosse síndica, ia andar com uma vassoura. E também riram de mim porque eu me arrumava. Na primeira reunião que participei, eu estava de terninho preto. Essa seriedade espantou as pessoas. Mas muitas pessoas também me apoiaram. Aos poucos, com a ajuda de todos, fomos melhorando o cenário”, diz a síndica, que tenta receber a todos os condôminos com muita atenção e que acredita que o poder do síndico tem que ser um poder em benefício do prédio e não apenas um poder pelo poder.

Recentemente, Denise também viveu um episódio de extremo desconforto, quando ela se sentiu desrespeitada por ser mulher. “Tive um embate com um condômino que teve uma postura muito grave em relação a mim. Foi um tipo de situação em que um homem sentiu que podia ‘crescer’ pelo fato de estar lidando com uma mulher. Mas o que eu fiz foi tratá-lo com educação e ainda coloquei folhetos nos elevadores e murais com informações diversas sobre agressões, sobre o 180 e sobre violências contra a mulher”, afirma.

Para Denise, as mulheres síndicas são muito mais organizadas, preocupadas e atentas. “Faço tudo com muito carinho, tenho muita atenção com o meu corpo de funcionários, com o bem-estar deles, faço planilha de tudo… Acho que, no fundo, as mulheres têm muito mais cuidado do que os homens”, opina.

Quem também compartilha da opinião é a síndica Sandra Regina Caleffi, que administra desde abril de 2020 o Atrium Residences e Lofts, na Tijuca, condomínio de 257 unidades, quando assumiu o cargo após ser subsíndica por muitos anos. Desde que tornou-se síndica, ela sente que também há grandes vantagens em se ter uma mulher no comando.

“Acho que a mulher tem muito mais senso de organização, e isso é uma grande vantagem. A mulher tem o olhar atento para as minúcias. O maior desafio do síndico é lidar com pessoas diferentes. O Atrium é uma mini-cidade, um micro universo, que é bastante heterogêneo, com muita gente diferente, necessidades e desejos diferentes… Ser mulher pode ser uma grande vantagem diante disso”, afirma.

E assim como Denise, ela também já viveu situações desconfortáveis e machistas. Como, por exemplo, quando o seu conhecimento sobre áreas supostamente masculinas como manutenção, é questionado. “Já aconteceu, por exemplo, numa obra de engenharia. Por ser mulher, os homens te acham menos capaz de resolver problemas. Quem é essa mulher falando aqui para mim sobre impermeabilização de caixa d’água? Isso já ouvi. Eles acham que podem te colocar na berlinda com assuntos menos femininos, mas estão muito enganados”, diz.

Sandra trabalhou com gestão de equipamentos culturais por muitos anos, então, lidar com caixa d’água e problemas de manutenção em geral, sempre foi parte do seu dia a dia.

“Acho que a mulher ainda vive muito intensamente esse processo de conquistas de espaços na nossa sociedade. Não só na profissão de síndico, mas o tempo todo somos questionadas a mostrar a nossa capacidade. Somos desafiadas a mostrar que sabemos. Essa busca por esse local de trabalho igualitário ainda é muito grande”, enfatiza. 

Para Sandra, muitas vezes, esse questionamento vem de maneira quase que subliminar. “Isso é disfarçado. Por exemplo, os homens gostam de dizer: ‘eu vou te ensinar isso aqui, talvez você não saiba’, é um questionamento bem disfarçado”, entrega.

Para ela, o futuro é das mulheres e a função de síndico só tem a ganhar com mais mulheres no mercado. “Os condôminos têm muito a ganhar. Claro, não é regra, mas lidar com os problemas com assertividade e firmeza, é uma característica nossa”, conclui.

 

Por: Mario Camelo

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