PUBLICIDADE

O papel do síndico na transformação da sociedade

Por Cidades e Serviços
Última atualização: 31/10/2022

Businessman pointing finger analyzing statistics financial graph.
PUBLICIDADE
PUBLICIDADE

Com o crescimento da densidade populacional das cidades e consequentemente a opção cada vez mais comum por se morar em condomínios, o papel do síndico vem se transformando com o passar dos anos. Hoje, ele pode ser muito mais do que o responsável por cuidar do prédio em que ocupa o cargo, mas se tornar um agente transformador para a concretização de um ambiente coletivo mais harmonioso.

Neste sentido, o diretor superintendente da APSA, Fernando Schneider, diz que a empresa, como maior gestora de propriedades urbanas do país, entende ter o papel de educar e ajudar o síndico a ser esse agente de transformação. “Na maioria das vezes, os síndicos estão preocupados com as demandas da porta para dentro. Mas, muitas coisas do lado de fora impactam diretamente a vida de quem está do lado de dentro. Por exemplo, numa rua em que o síndico cuida bem da sua calçada, mas os outros não, o problema é de todos”, afirma. 

Ele ressalta que, ao interagir com a sua comunidade, como, por exemplo, síndicos vizinhos, é possível ampliar bastante as possibilidades de fazer transformações. “Os vizinhos de uma rua podem se reunir, por exemplo, e discutir quais são os problemas locais e unir forças para resolvê-los. O coletivo é muito mais forte do que o individual. Hoje existem plataformas de serviços que podem ser compartilhados”. 

A união da força é uma necessidade para facilitar a resolução de questões numa época em que as responsabilidades do síndico se tornaram mais complexas. Com o passar dos anos, os condomínios foram ficando maiores, mais completos e, consequentemente, com uma demanda de trabalho maior para o gestor. Ao mesmo tempo, com a correria do dia a dia, menos pessoas querem assumir a sindicatura. 

“Hoje em dia, todas as comodidades entregues pelas construtoras em novos projetos, se refletem em mais trabalho. O síndico precisa entender de legislação, se relacionar com terceirizados, gerir serviços… São questões que demandam dedicação e, principalmente, tempo. E nesse contexto, o síndico externo é uma figura que começa a ganhar cada vez mais força na sociedade”, comenta Fernando. 

 

A ideia é unir forças para ter mais voz

O advogado Fabio Parreira Pinto é síndico há sete anos de um condomínio na Rua Gago Coutinho, em Laranjeiras, no Rio de Janeiro. Há seis anos, ele e outros síndicos vizinhos decidiram unir forças em um grupo informal para batalhar por uma melhor qualidade de vida na região. 

“Não sou síndico profissional. Sou residente do prédio. Por conta de problemas localizados, como a falta de poda das árvores, iluminação pública, interrupção do fornecimento de água, calçamento e a insegurança, nós fundamos um grupo reunindo os síndicos da rua. Começamos no WhatsApp e hoje somos 14 síndicos participantes. Nós interagimos, participamos do conselho comunitário de segurança e vamos às reuniões da associação de moradores. Estamos sempre de mãos dadas em alguma luta”, conta Pinheiro, ressaltando que a maior conquista até o momento, com a ajuda da associação de bairros, foi a implantação do programa de policiamento Segurança Presente na região. 

Na sua visão, a participação do síndico em assuntos que vão além dos que dizem respeito única e exclusivamente ao condomínio, é algo essencial nos dias de hoje. “É fundamental. Um síndico sozinho não tem força, voz ou representatividade suficientes. Agora, por exemplo, estamos colocando um sistema de segurança por câmeras na rua. Alguns prédios aderiram e outros não. Alguns acham que vai virar um “Big Brother Brasil” e não concordam. Há um grande debate, porque precisamos de um número mínimo de adesão. Então tem sido muita conversa e todo um trabalho de convencimento. Não é fácil, mas é o único caminho, e funciona”, comenta.  

Ele explica que apesar de a associação de moradores fazer esse papel de lutar pelas demandas da comunidade, nem sempre ela consegue dar conta de tudo sozinha: “O bairro de Laranjeiras, por exemplo, é grande. Existem vários núcleos residenciais, com interesses completamente diferentes. O que incomoda os moradores da Rua Gago Coutinho não necessariamente incomoda os moradores da Rua Bento Lisboa. Não somos uma associação, porque não nos convém fazer frente à associação do bairro. Muito pelo contrário, a Associação dos Moradores e Amigos de Laranjeiras (Amal) é muito atuante. Nós contribuímos com ela e recebemos toda a atenção”, explica.  

Já Claudia Maia é síndica profissional há 21 anos e diretora administrativa da Sociedade Amigos de Copacabana (SAC) há 19. Ela diz que o seu papel nas duas funções é basicamente o mesmo, apenas em escalas diferentes: “As duas áreas têm muito em comum. Se tenho, por exemplo, um problema na canalização de esgoto na saída do prédio, cabe ao órgão encarregado desobstruí-lo para não causar problemas ao condomínio. Já uma falta de luz em um poste prejudica a segurança dos moradores e, com a associação, temos um canal direto para as nossas demandas”, comenta ela, que também é integrante do Conselho de Ética do Conselho Comunitário de Segurança de Copacabana e Leme (CCSCL).

 

Na sua visão, um síndico que não se envolva com entidades e lideranças fora do seu condomínio terá sempre mais dificuldade para resolver problemas que afetam diretamente o seu prédio, principalmente pela falta de conhecimento de onde reivindicar soluções. “Essas coisas a gente aprende no dia a dia de uma associação”, diz. 

 

E para um síndico que esteja interessado em criar esses laços comunitários, ela aconselha: “O primeiro passo é procurar a associação de moradores e o Conselho Comunitário de Segurança do bairro, para se atualizar e solicitar ajuda e melhorias”. 

 

É importante estabelecer limites

Síndica em um condomínio com cerca de 400 moradores em Botafogo, a advogada Andrea Bentes é uma pessoa engajada em causas e lutas de toda a região no entorno do seu prédio. Ela destaca, no entanto, que é essencial que os moradores entendam que essa participação do síndico é algo importante, mas não faz parte das suas atribuições legais. 

“Já tive problemas com moradores que me acionaram para resolver questões no bairro que não tinham nada a ver com o nosso condomínio. Não é obrigação do síndico. Não somos poder público. Eu acho que sim, temos que nos envolver com as questões, assim como qualquer pessoa deveria se envolver. Eu divulgo todas as reuniões da associação de moradores pelo WhatsApp do condomínio, por exemplo”. 

Ela explica que é importante o síndico deixar isso claro para evitar mal-entendidos, pois a lista de deveres de quem ocupa o cargo não é pequena e precisa de atenção constante: “A lei diz que a responsabilidade do síndico é civil e criminal. Se acontece algo grave no condomínio, de responsabilidade direta da pessoa do síndico, é este quem vai preso em primeiro lugar. Os bens pessoais do síndico também podem se tornar alvos em casos de processos. Se o síndico ainda tomar para si a responsabilidade do poder público e do cidadão, não dá. As pessoas normalmente se acomodam e não querem reclamar e participar. Elas precisam participar das associações de moradores. É um dever de todos. Só assim as coisas vão melhorar”.  

 

O olhar do micro para contribuir para o macro 

Há mais de duas décadas e meia na presidência da Associação de Moradores e Amigos do Leblon (AmaLeblon) e da Associação Comercial do Leblon, Evelyn Rosenzweig convive com síndicos com frequência e diz que é fundamental que eles se envolvem com as questões comunitárias: “Na medida em que o síndico vê a dinâmica de uma administração predial, ele passa a enxergar com outros olhos a cidade como um todo. Com esse olhar micro, ele pode trazer essas informações até para o representante do bairro dele. Eu mesma fui síndica do meu prédio por muitos anos. Acho que é preciso haver uma conscientização maior sobre a importância desse cargo”. 

Ela, no entanto, entende que é preciso ser vocacionada para a função. “É preciso ter uma cultura do cuidado com o coletivo e o bem comum. Tem que colocar a mão na massa”.  Evelyn ressalta ainda que sem esse envolvimento, fica muito difícil buscar uma qualidade de vida até aos próprios moradores do condomínio. “Não adianta eu cuidar da frente do meu prédio e não pensar no que está no entorno, porque eu vou sair e encontrar a calçada do vizinho toda esburacada, por exemplo”. 

A líder comunitária afirma que tem uma boa relação com os síndicos do bairro do Leblon: “A partir desse contato, a gente vai abrindo um leque de informações. Ocorre com o síndico o mesmo que ocorre comigo como presidente da associação: não somos milagreiros que vamos resolver os problemas de um dia para o outro. Ele também depende da ajuda dos outros moradores.  Eu percebo que há uma mudança de postura de uma maneira geral”. 

 

Síndico precisa ser um exemplo de ética e moral, aponta neurocientista 

O síndico precisa exercer a sua liderança de forma exemplar para inspirar os seus vizinhos e assim contribuir para uma sociedade mais harmônica e justa. É o que diz a gestora de carreira e neurocientista Andrea Deis. “Quando a gente pensa no exercício de uma função, a gente pensa em processos, sistemas e tarefas que serão observados por todos por um critério de ética e moral. Na ética, vai estar escrito todos os regulamentos: o que pode e o que não pode. Moralmente, é onde vai estar sendo observado o comportamento na prática. O papel do síndico é ser uma representatividade de exemplo em tudo o que está escrito e presenciado na prática. Ou seja, sem privilégios, de uma forma imparcial e em prol da convivência geral do condomínio e não de particularidades. Ele deve ser moderador e mediador em cima do que está previsto e escrito, e trabalhar com as particularidades desde que elas realmente existam excepcionalmente. A partir do momento em que as excepcionalidades se tornam frequentes, já não existem mais regras”, diz. 

Sobre os cuidados no seu papel como líder, ela acrescenta: “É muito comum, às vezes até inconscientemente, a pessoa ter afinidades. Neste sentido, o síndico não deve ter melhores amigos dentro de um prédio, já que a sua função demanda a imparcialidade. Isso será observado por todos. Ele deve ter um cuidado com a escuta também. Não adianta ter uma escuta apenas empática. Ela precisa, também, ser ativa. O filtro dessa escuta vai ser justamente o que está no regulamento, então ela não pode ser somente empática. Só assim ele será visto por todos como uma pessoa imparcial e justa”. 

Andrea destaca, ainda, que o síndico precisa estar muito preparado com a sua inteligência emocional. “As pessoas e condôminos, às vezes, podem se exaltar e ele precisa ser racional. O que se espera do síndico é justamente ser esse equilíbrio. Ele não pode ser o fogo do encontro e o gerador do conflito. Ele precisa ser o apaziguador que vai trazer soluções baseadas nas normas e regulamentos”. 

Por: Gabriel Menezes

PUBLICIDADE
PUBLICIDADE